Ninguém tonteia por aqui

- E aí rapaz, como estás?

- Bem... Um pouco tonto, onde eu estou...

- Como assim tonto? Ninguém tonteia por aqui não, bixo.

- De repente o tempo parou e eu cheguei aqui. Era para eu estar assustado?

- Não , claro que não. Chovia onde você estava?

- Sim, chovia muito.

- Então fica bem, senta aí , relaxa e vamos papear.

- Como assim?

- Ninguém te explicou que é isso o que acontec...

- Quem é ele ali?

O ele ali saiu de uma porta discreta como quem sai de um banheiro, servindo um scotch em erguendo a pulseira com seu pulso esquerdo para o gole triunfal. Acenou para o rapaz encharcado e para o jovem com uma fita na cabeça. Seguiu no seu   wisky sem muita ceriômina e ficou no canto. Muito cool.

- Ah, ele? É um de nós.

- Um de nós? Como o Stin...

- Quieto terráqueo, é assim que a gente é chamado aqui.

- Está bem, seu exagerado! Como se eu soubesse o que é ser um de vocês. Eu estou correndo algum risco?

- Risco? Bobinho, parabéns pela piadinha bem feita. Ninguém corre risco nenhum por aqui, o máximo que pode acontecer não querer mais seu estado "atual" ou o que você pensa que é atual para você. Lembre-se, o tempo parou e chovia. Embora chover seja apenas um enredo. Não estou afim de falar sobre isso hoje, me passa o isqueiro aí do seu lado.

- Sobre o que você quer conversar então?

- Sei lá, como está o país? Quem está cantando por lá?

- Uma bagunça e as mesmas manchetes populares.

- E quem canta por lá?

- A Ivete.

- Não conheço essa. É Rock Brazil?

- Não, é Axé.

- Aquilo da Tieta!!! Que demais!!!

- Sim, mas um pouco melhor kkkkk

   Os dois gargalham, uma fumaça de cigarro sobe pela sala vazia. Um wisky só deixou o cheiro no copo do outro lado e é como se houvesse mais gente por trás daquela porta em que todos saem como se estivessem no banheiro.

- Eu vou banheiro...

- Nessa porta ai não querido, naquela outra.