segunda-feira, 4 de abril de 2016

4 de abril

        Um dia eu chutei uma bola, e  Taffarel defendeu. Aquele surfista com cara de mocinho de filme e parecido com o Sting colocou um sorriso no rosto de meu pai. Eu havia entendido o meu destino e me encontrado com o colorado. Eu era uma criança e talvez os anos noventa não reservassem muitas felicidades, mas havia uma esperança, porque o goleiro do Inter era o goleiro da Seleção. Foi o goleiro do Inter no Tetra, junto com meu ídolo maior levantando a taça.
      Para ver meu ídolo maior com a camiseta do Inter, eu vibrei com os gols de Marquinhos e Gérson, El Gato Fernandez não deixava nenhum tricolor sequer acertar um pênalti e o Célio Silva batia. Chutava a grama se fosse preciso para ser campeão. Eu achava o Antônio Lopes o melhor treinador do mundo, e o pai me dizia "pena que tu não viu o Seu Ênio". 
         Depois do timaço de 1992, voltava para o clube o maior de todos, aquele que todos diziam ser o cara, e jogava com o 5 em que eu nasci. Falcão era o ídolo daquele time, mesmo na casamata, mas não podia jogar. No ano seguinte, um solitário zagueiro caia triste perto do córner para em duas embaixadinhas emendar uma bicicleta. A torcida amava Argel, tenho inúmeros autógrafos dele nas minhas agendas de infância. 
          Abel Braga tentou resolver a bagunça daquele ano mentiroso, e era como se todos acreditassem no grenal do século. Inclusive eles. Naquele ano eu vi um zagueiro estrear dando um carrinho em Argel e Sandoval, resolvendo o lance saindo com classe. Gamarra deu a tranquilidade que um goleiro como André merecia. E Leandro nunca teve um armador à sua altura. O resto foi aprender sobre paciência. Até que Fabiano virou um jogo no Maracanã em reestréia de Romário, e inventou um raio de sol num domingo de 5x2. A propósito Christian nunca será ídolo colorado, não meu, e duvido que seu também. Do Galatasaray ele poderia dizer não, mas não para voltar para aquele lado estranho da cidade. 
       Assim que chegou à Seleção , André foi para o Cruzeiro e Dunga voltava para sua casa. O menino que comemorava a redenção do homem em suas Copas chorava o garoto que via o seu ídolo em seu clube do coração. Do coração dos dois. O Inter estava protegido, e tudo daria certo. Mas talvez fosse preciso cobrar R$ 1,00 o ingresso, lotar o estádio, e o Inter estar tão espatifado como eu estava com a separação dos meus pai. Mas ele deu a cara a tapa, de novo , e finalmente as redes da Parmalat foram vencidas. 
        O ano 2000 começava com tudo errado, sem ídolos e um guri chutou uma bomba de fora do área na João Havelange. Que bom que o Barcelona contratou o novo Falcão , antes que nós descobríssemos que era Fábio Rochemback. E então um cara chegou e deu ordem na coisa toda. Falando diferente e dizendo porque havia contratado tal cara, e não apenas porque ele era bom. 
         Foi difícil se despedir de Mahicon Librelatto , assim como foi difícil fazer aqueles dois gols e atravessar aquele domingo úmido de Belém. Um paraguaio resolveria as coisas no ano seguinte, com um senhor mal humorado mas trabalhador sentado no banco. Muricy e Gavillan, juntos com Clemer, o santo Clemer, e a gente já podia sonhar até com vaga de Libertadores. Diego, Daniel Carvalho e o rival era batido, e novamente e novamente. 
          2004 foi um ano tranquilo, não havia resistência no estado, Nilmar já era realidade no clube e o Inter tinha novamente um atleta de Seleção Brasileira. Um atacante como o presidente queria, como as bases estavam destinadas a criar. E o Lyon levou ele para França, porque de lá vinha um cabeludo, sem muito tempo a perder e com muita vontade de vencer. Vontade de vencer, meu xará fez o 999, e Fernandão o gol 1000 dos grenais. E correndo feito louco, feito cada um de nós torcedores, um guri loiro de Erechim, batendo nos zagueiros, apanhando, mas não se intimidando. Se fosse preciso Rafael Sobis voltava marcando o lateral até a outra bandeirinha de escanteio ou diria "quem é esse juventude?" e chutaria uma bola na gaveta do Jaconi. 
       Perdigão jamais fez muitos gols, e um que fez não valeu. 2005 nos dizia a que vinha, e nós tentamos. Amamos aquele campeonato, viramos jogos, perdemos jogos, goleamos, e nem clássico tivemos. Mas só uma pessoa não viu Paulo César Tinga ser atingido no Pacaembu, e até hoje ninguém quer mostrar isso a quem define o que nesse futebol. 
      Mas Ceará pegou um rebote na Venezuela e foi para o Japão acabar com o bom futebol de Ronaldinho. Michel e Rubens Cardoso driblaram o mesmo goleiro, Fernandão guardou um testaço nos uruguaios amigos do outro lado, A única falha de Ceará na carreira foi abençoada com a mística virada de Rentería e Fernandão a 2 mil metros de altitude. Porque não o mesmo em Porto Alegre?
         Porque não o mesmo em Porto Alegre, já que Fernandão até atirado no chão tenta cabecear uma bola, Michel surge para honrar o capitão. Que foi honrado pelo goleiro adversário, e Gabriu dizia a que veio para nossa história. Renteria, Gabriu, o general Bolívar e Michel. Aliás Michel fez muitos gols na Libertadores, e só com isso já é mais ídolo do que Christian jamais será. 
         Jorge Wagner e sua cesta de três pontos no Uruguai, o golaço do Renteria. De novo uma cesta rasteira de Jorge Wagner, Sobis e novamente Renteria, adeus LDU. Guinazu e Hidalgo precisavam amar o Internacional, Fernandão e Alex diriam porque. E Sobis em sua noite de gala, e Fernandão com Tinga carimbariam a nossa taça. A América é minha, esses caras deram ela pra mim. Pra nós, e nunca mais ninguém poderia gritar mais alto do que eu. 
                No grenal de Yokohama, até o adversário veste vermelho e o Inter ganha. E as vitórias passaram a ser como sempre sonhei. As Recopas, a Sul Americana, novamente a Libertadores. Os nomes dessa caminhada para um segundo volume desse texto. Porque nesta transição o clube passou a ser meu ídolo máximo, repleto de heróis por todos os setores, posições, projetos. Assim como Dalesandro, Alisson, Nilmar, Bolivar, Dunga, Falcão,  Fernandão , Clemer precisam contar suas histórias de como chegaram ao Beira Rio novamente. 


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