terça-feira, 30 de junho de 2015

Final Feliz I

         Todos os anos ocorre a festa a Fantasia da faculdade do curso de História. O casal quieto do Mestrado, Jaques e Luana estavam empolgados. Combinaram suas fantasias com outro casal de amigos. Iriam os dois de Yagami Raito e Misa Amane, personagens do seu desenho preferido. Convenceram os amigos a irem de Ryukuu e Remu. Estavam empolgados, todos gostavam do desenho, que era uma febre, e com o investimento que fizeram poderiam até ganhar algum daqueles prêmios que acontecem nas festas à fantasia.

          O pessoal do segundo semestre da graduação foi de liga da Justiça, outro pessoal de Big Bang Theory e os professores, combinadamente, foram deles mesmos (sic). O salão era grande e espaçoso, todos estavam com suas bebidas geladas e animados. Afinal , festas são para isso.

          Quando a turma do Mestrado chegou, chamaram muita atenção. Não pelo modelo quase colegial de Luana ou pelo terninho de Jaques. Muito menos pelos quatro estarem com um caderno preto nas mãos. A maquiagem de Cláudio e Gisele foram a sensação da noite, até então. Até então porque viria mais no decorrer da noite. O Supla roxo de cabelo vermelho e a múmia de passos firmes, e sempre atrás de Jaques e Luana, realmente causou impacto.

        Mas o impacto maior ocorreu quando repentinamente a música baixou. Cláudio e Gisele deram um passo para trás, Luana que prestava atenção nos professores, tentando imaginar o que eles conversavam se surpreendeu com um Jaques semi-ajoelhado á sua frente. Por semi-ajoelhado entenda, um dos joelhos no chão e o outro apoiando uma das mão e um pequeno estojo.

Antes que Luana perguntasse sobre a cena, Jaques disse:

"Luana, eu prometo te amar para todo sempre. Mesmo que um Shinigami te ame e dê a vida por ti, eu prometo conquistar o amor de outro Shinigami para não te deixar só. E te prometo um amor de Misa Amane, e te prometo acima de tudo, o meu próprio amor. Quer se casar comigo?" 

sábado, 20 de junho de 2015

O jogo mental do vôlei

O jogo mental do vôlei

                Tudo se inicia no saque. O apito estipula 8 segundos como limite para a tomada de decisão e a execução do movimento. Qual o espaço correto para transformar a iniciação do jogo em um ataque fulminante? Viagem, balanceado ou tático, a intenção é a mesma, desequilibrar a defesa adversária. Melhor hora para quebrar o passe adversário, porque é o primeiro segundo de jogo, e essa será eternamente a intenção: limitar o leque de opções do adversário para o passo seguinte.
                A defesa está alinhada, protegendo o levantador ou não, cobrindo determinada área da quadra pelo adversário repetir estatisticamente o alvo, ou apenas como uma mera formalidade tática. Fato é que o passe deve sair perfeito, inibindo a primeira força de ataque do adversário, correndo veloz pelo ar e com o mínimo de efeito possível, o levantador vem aí. E do líbero se espera que domine esse movimento, e fortaleça o rendimento e confiança dos colegas de defesa.
                O levantador flutua em um tempo crítico pelo seu pouco raio de abrangência. Em menos de um segundo é preciso decidir qual das opções é a melhor para o ataque a ser executado. Nessa fórmula de raciocínio de tomada de decisão, é preciso estar atento ao posicionamento da defesa adversária, e principalmente se o ângulo que o seu atacante receber a bola será afastado da parede de bloqueio adversário. Em sincronia, podem se movimentar conjuntamente ao levantador mais três ou quatro colegas de time, oferecendo uma dança bem executada da modalidade. E a bola deve atravessar o bloqueio adversário, descer rapidamente e o mais precisa possível para dentro da quadra e fora do alcance adversário.
                Se o êxito do ataque se confirmar, o atacante encontrou a melhor opção de espaço oferecido na quadra adversária. Ou contou com a técnica, explorando o bloqueio adversário, na falta de espaços para o ataque efetivo. Ou contou com a cobertura atrasada da defesa que percebeu sua “pingada” sobre o bloqueio atrasado demais. Ou encontrou alguma outra saída, seja ela consciente, treinada ou resultado de um lance de sorte. Afinal a bola deve cair do outro lado caso resbale na rede naquele saque despretensioso.
                Mas pode ser que o atacante pare no bloqueio bem armado do adversário. Nesse caso, a cobertura deve ser exemplar. O líbero estará correndo enquanto o ataque é executado, e os colegas mais próximos assim que percebem estão em posição de preparação de manchete. Se o colega ficar no bloqueio, isso não significa que a bola cairá na sua quadra. Mas se cair, muito se deve a qualidade do adversário, por ter feito a leitura certa do movimento do atacante e armado o bloqueio de maneira correta.
                Se o passe feito no saque não for o melhor esperado, o bloqueio já sabe quais as opções deverá marcar. O meio de rede se direciona a um dos colegas ao seu lado e salta junto. E salta junto não podendo tocar na rede de forma alguma, não podendo invadir o espaço acima da rede do adversário, não podendo encostar uma pontinha de pé que seja do outro lado da quadra. Só depois que a jogada encerrar e o ponto ser confirmado. E se o ponto ocorrer no bloqueio, você ouvirá um longo e celebrado “uuuulllllll”, que pode vir de todos os lados. Seja do treinador, do colega de time, de alguém na torcida, o fato é que um ponto de bloqueio comove e motiva.
                Se nenhum dos movimentos acima encerrar a jogada, podemos estar envolvidos por um rally. Com os times trocando bola, quebrando defesas, dificultando levantamentos, atrasando bloqueios e enfraquecendo ataques. Mas a defesa, a defesa se agiganta a cada segundo de um rally. Depois de 30 segundos, 1 minuto ou mais, os dois lados saem fortalecidos. O vencedor sai aliviado porque venceu um rally, o outro lado sai fortalecido porque participou de um rally. A capacidade de volume de jogo e repertório, tanto técnico quanto emocional, da equipe se apresenta nesse momento do jogo.
                Dois tempos para cada lado são permitidos para os técnicos reorganizarem suas equipes ou eventualmente quebrar uma sequencia positiva de saques do adversário. Sendo curioso que se observa um êxito considerável quando a intenção for essa. Mesmo que depois de uma sequencia de, hipotéticos, quatro pontos sofridos em um ace, um bloqueio bem feito e dois contra ataques. Tudo se inicia no saque, logo é onde tudo começa a chamar a atenção, e é preciso recuperar a bola.
                Se algo acontecer de errado nesses movimentos todos, ocorre um fenômeno muito peculiar do voleibol, seus colegas virão ao seu encontro. Virão ao seu encontro para tocar em suas mãos e dizer algo que o estimule. Seja para levantar depois de uma defesa em que não deu tempo, seja para dar sequencia ao jogo depois de “engolir” a bola em um toque que se ensaiava com quase nada de dificuldade. Não importa o que aconteça, seu time está com você, e afinal, se passaram apenas poucos segundos para o ritual todo recomeçar com mais um saque. 

domingo, 14 de junho de 2015

O senhor na montanha

                Uma solução encontrada, um erro cometido. Um momento de desencontro, o momento do reencontro. Uma nuvem dança no céu azul, a chuva espalha o verde de um gramado. Um sorriso encantador, o canto da boca caído em um sorriso ao contrário. Uma ave que voa, um bando que avança, o som silencioso de um gato a observar, um cachorro em trote desgovernado e impaciente em carinho.
                O sorriso com olhos escuros, o verde a observar com pontos de interrogação a intensidade de pontos de exclamação. O sim e o não. Um gol em outro continente, um bom sinal. Um helicóptero, um ídolo. Uma paisagem linda na janela de algum amigo. A sensação de paz em meio a tantos desafios. A sensação de vazio em se cumprir algo importante.
                Um grito contra o silêncio, um pedido de silêncio em meio a outros sons. Um domingo de outono, uma sexta feira de inverno, a madrugada de um sábado de primavera. E o calor. A canção preferida em eterno ensinamento, o violão que emudece. Um café barato, um cigarro que se apaga. Um sorriso de esperança.
                Uma bola de vôlei intocada, e outro joelho que dói. Um gramado que se repete, uma mudança de ambiente. Um trem, um ônibus e alguns carros. Inúmeras placas e poucas placas. Um olhar vazio e a busca pela imagem a se observar. Um chimarrão, uma cerveja, uma pizza ou uma carne de churrasco.
                Um telefone celular, a alta tecnologia aproximando e afastando. Um estalo, o dia que deixou de ser noite. Um erro, a acusação, o descaso, o abandono, o perdão, a redenção e a felicidade. O reencontro do ciclo, e o mundo que se justifica. As duvidas caem em perguntas, e se encontram em respostas.
                Uma música, um acorde, um livro, uma gravata, uma bermuda, botões, terno. Conta no banco, isqueiro, café, cinema, física quântica, quem explica. Quem afasta, quem se aproxima. Um perfume, óculos, cabelo em harmonia, rostos maquiados. Uma mesa com alguns microfones.
                Um chope escuro, um sorriso numa foto. Um aniversário. Amigos, muito estudo. Eternas perguntas, algumas respostas. Uma surpresa, uma agradável tarde de sábado. O mundo se abrindo, e o mundo fechado. A solidez do que não é o inicio, nem o fim e talvez, no máximo uma parte de busca, encontro e caminho. Atmosfera e linha de chegada.
                O medo corajoso e a valentia covarde. A estagnação e o movimento. Nós desatados, serendipidade, calma e paz. Fé.

Apenas um senhor meditando em uma montanha.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

O árbitro campeão

    João Rogério Mendonça aos quatro anos de idade se apaixonou por futebol. Seu pai, José Raimundo Mendonça, lhe entregou uma bola. Ela rolou pelo chão de terra batida daquele pátio em slow motion, o menininho sabia que algo diferente estava acontecendo.
    Passou a infância toda dizendo que queria ser jogador de futebol, ficava o dia todo na rua chutando bola com os colegas e amigos. Até que anoitecia e os pais lhe chamavam para jantar e estudar. Esse era o trato e ele entendeu desde o inicio, para jogar bola precisava estudar. Não que uma coisa se relacionasse com a outra, mas os pais disseram que se ele tirasse boas notas passaria o tempo que quisesse jogando bola. E os pais não abusavam, aprenderam desde cedo como motivar seu segundo filho.
     Dos doze aos dezessete anos, João, então chamado como Néquinho (ninguém sabe a origem do apelido, quando viram era o seu quase nome), passou por 35 peneiras diferentes. Passou apenas em times muito pequenos e sem projeção, e mesmo assim, a primeira vez ocorreu na décima quinta tentativa. O rapaz viveu sua puberdade assistindo seu sonho se evaporar em tentativas frustradas pela falta de aptidão necessária para se tornar jogador de futebol.
      Ainda na adolescência João entendeu que para fazer parte do mundo do futebol teria que adaptar seu sonho. Mas João era vaidoso e orgulhoso, o caminho natural era estudar Educação Física e se tornar um treinador ou preparador físico e seguir carreira nos clubes de futebol. Não para João, ele logo entrou para a faculdade de Administração. Se formou e emendou Relações Internacionais. Nesses oito anos, fez todos os cursos possíveis e oferecidos pela Federação de Futebol do seu estado pra se tornar árbitro.
       Ao longo da vida acadêmica o jovem árbitro passou por campeonatos amadores da cidade em que morava. Aliás, é desse tempo o famoso episódio do artilheiro dos mil gols, com reportagem da sucursal da principal rede de televisão do país e pedido de música para aquele programa de televisão. Toinho o artilheiro dos mil gols, foi o primeiro a despertar no jovem árbitro um rancor enorme contra o futebol. Ele sempre seria a lei, a última palavra seria a dele, mas ele jamais seria a estrela. Isso o amargurou bastante.
        Passou pelas duas divisões do estado quando era bixo em Relações Internacionais, e no final de semana anterior a apresentação de seu trabalho final de graduação apitou a final do estadual, o grande clássico do estado. A atuação segura e o jogo tranquilo ( o primeiro resultado havia sido 3x0 para o time que decidia em casa naquele domingo e, que abriu o placar aos 10 do primeiro tempo), o levaram para o quadro da Confederação nacional. Apitou, quer dizer arbitrou, porque apitar não é termo digno, então, José arbitrou jogos da serie D e C no seu primeiro ano no quadro nacional.
         Aos vinte e oito anos e com três finais consecutivas do estadual, partidas de serie A,B,C e D do Campeonato Brasileiro e semifinais da Copa do Brasil, se tornou aspirante do quadro da confederação sul-americana. Estava como quarto árbitro naquele famoso jogo da Copa Sulamericana em que um jogador chileno driblou dois adversários e mandou um chute seco na gaveta. O típico gol de vinheta. Segurando a placa com o acréscimo, João assistiu ao lance, mordeu os lábios para não gritar um “puto de sorte”. Tamanha foi a sua raiva naquele momento.
         Mas certos momentos podem trazer bons aprendizados. João se casou e amadureceu. Parou de dar cartões amarelos severos para certos jogadores (normalmente o craque), focou na sua preparação física e mental para os jogos. Aos 31 anos era do quadro da Federação internacional. Comandou jogos da eliminatórias sul-americanas, inclusive um clássico entre Uruguai e Argentina. Como ele estava se comportando, o destino colaborou com ele, o grande  craque que estaria em campo havia se machucado pela Liga dos Campeões dias antes e o 0x0 transcorreu tranquilo, classificando os dois times para a Copa no ano seguinte.
         Na Copa do Mundo, João Rogério comandou duas partidas. Partidas menores, mas foi aprovado pelo conselho de arbitragem. Provavelmente partidas menores não instigaram o rancor de João contra o futebol. E nem a eliminação da Seleção Brasileira nas quartas de final apagaram seu bom momento. Teria ainda duas Copas do Mundo, já que o outro arbitro brasileiro a viajar para o torneio encerrava naquele momento o seu ciclo de sucesso em três Copas.
         Aos 35 anos depois de três finais da Copa do Brasil, duas de Libertadores e uma participação no Mundial de Clubes, João Rogério chegava a Europa para aquela que seria a sua Copa. Estava muito bem preparado, há tempos que não dava um cartão amarelo bobo, nem marcava pênaltis inexistentes. Participava de programas de TV com sua hábil retórica, tão bem elaborada nos tempos de Administração e Relações Internacionais. Não era apenas um profissional respeitado no futebol, na área em que se graduou também, devido à sua empresa de importações.
      Sua performance estava sólida, arbitrou 4 jogos e foi quarto arbitro em outras duas. Atuações elogiadíssimas pela imprensa especializada. Na sua estreia expulsou corretamente o zagueiro sensação da Alemanha, após o mesmo dar um carrinho no atacante uruguaio que partia em direção do seu segundo gol no jogo. O 0x0 entre Itália e Holanda não houve uma interferência sua no resultado, e rendeu elogios do treinador holandês, para surpresa de todos. Na surpreendente vitória de Gana sobre a Suíça, com três gols do seu camisa 6, João sentiu uma leve sensação familiar. Mas não soube reparar. Estava na SUA Copa do Mundo, e em dois dias seria o responsável pelo jogo entre Japão e Espanha pelas quartas de final.
     Sua atuação até hoje é lembrada por muitos, os espanhóis venceram por 3x2 os japoneses com um pênalti marcado aos 40 minutos do segundo tempo. João Rogério apitou na hora do contato entre o zagueiro japonês e o atacante espanhol, foi firme na hora da reclamação e não precisou dar nenhum cartão amarelo bobo. Nos dois dias seguintes só se falava em João Rogério na final, não havia outro arbitro à sua altura depois daquela tarde.
      Mas havia um detalhe, e o futebol não perdeu a oportunidade de ser irônico com o impaciente João Rogério. No último jogo das quartas de final, o Brasil enfrentaria a França. E para João Rogério o Brasil não poderia ir além das quartas de final naquela Copa do Mundo. O conselho de arbitragem da Federação Internacional havia decidido que esse era o limite para árbitros do mesmo país de seleções que seguiam para as fases decisivas da Copa. Enfim, exatos três dias depois de sua maior atuação como árbitro, João Rogério assistiu de dentro do estádio ao renascimento do futebol brasileiro, ao enfrentar um de seus maiores fantasmas.
    Enquanto um novo sopro de esperança tomava conta da torcida brasileira, um rancor com tremor tomava conta de João Rogério. Naquele exato momento, sentado em uma confortável cadeira de estádio moderno europeu, assistindo jogadores trocando de camisetas. Quem saia com a camiseta branca na mão, sorridentes abanavam para as arquibancadas que entoava um samba qualquer. Um jogador chegou a abanar para João Rogério, provavelmente o reconhecendo daquela final de estadual de 10 anos antes. Era um sorriso de um vitorioso saudando outro. Naquele momento, naquele longo e contrastante momento, João Rogério começou a organizar o seguimento de sua carreira. Era um vitorioso saudando outro.
    Tão rápido quanto a escalação do árbitro para a semifinal entre Brasil e Holanda, João Rogério utilizou dos contatos dentro da Federação para conversar com a comissão técnica da Seleção. Até hoje, os atletas, dizem que a palestra técnica sobre o estilo de arbitragem do árbitro japonês da semi-final (3x2 para o Brasil!) e antes da final (4x1 Brasil sobre a Argentina),sobre o húngaro que todos conheciam da Champions League, fizeram a diferença. O capitão disse em uma entrevista para uma revista de circulação nacional que entrar em campo sabendo que certo tipo de carrinho o “japonês” ia deixar passar, mas reclamação nunca, colocou os atletas em campo mais cientes do que fariam. Mas o que ele defendeu como fator diferencial foi o brilho nos olhos de João Rogério, “era como se ele quiser estar em campo com a gente... e esteve! Tanto que a Federação mandou fazer uma medalha igual a recebida pelos atletas para o envolvido árbitro.