sábado, 20 de junho de 2015

O jogo mental do vôlei

O jogo mental do vôlei

                Tudo se inicia no saque. O apito estipula 8 segundos como limite para a tomada de decisão e a execução do movimento. Qual o espaço correto para transformar a iniciação do jogo em um ataque fulminante? Viagem, balanceado ou tático, a intenção é a mesma, desequilibrar a defesa adversária. Melhor hora para quebrar o passe adversário, porque é o primeiro segundo de jogo, e essa será eternamente a intenção: limitar o leque de opções do adversário para o passo seguinte.
                A defesa está alinhada, protegendo o levantador ou não, cobrindo determinada área da quadra pelo adversário repetir estatisticamente o alvo, ou apenas como uma mera formalidade tática. Fato é que o passe deve sair perfeito, inibindo a primeira força de ataque do adversário, correndo veloz pelo ar e com o mínimo de efeito possível, o levantador vem aí. E do líbero se espera que domine esse movimento, e fortaleça o rendimento e confiança dos colegas de defesa.
                O levantador flutua em um tempo crítico pelo seu pouco raio de abrangência. Em menos de um segundo é preciso decidir qual das opções é a melhor para o ataque a ser executado. Nessa fórmula de raciocínio de tomada de decisão, é preciso estar atento ao posicionamento da defesa adversária, e principalmente se o ângulo que o seu atacante receber a bola será afastado da parede de bloqueio adversário. Em sincronia, podem se movimentar conjuntamente ao levantador mais três ou quatro colegas de time, oferecendo uma dança bem executada da modalidade. E a bola deve atravessar o bloqueio adversário, descer rapidamente e o mais precisa possível para dentro da quadra e fora do alcance adversário.
                Se o êxito do ataque se confirmar, o atacante encontrou a melhor opção de espaço oferecido na quadra adversária. Ou contou com a técnica, explorando o bloqueio adversário, na falta de espaços para o ataque efetivo. Ou contou com a cobertura atrasada da defesa que percebeu sua “pingada” sobre o bloqueio atrasado demais. Ou encontrou alguma outra saída, seja ela consciente, treinada ou resultado de um lance de sorte. Afinal a bola deve cair do outro lado caso resbale na rede naquele saque despretensioso.
                Mas pode ser que o atacante pare no bloqueio bem armado do adversário. Nesse caso, a cobertura deve ser exemplar. O líbero estará correndo enquanto o ataque é executado, e os colegas mais próximos assim que percebem estão em posição de preparação de manchete. Se o colega ficar no bloqueio, isso não significa que a bola cairá na sua quadra. Mas se cair, muito se deve a qualidade do adversário, por ter feito a leitura certa do movimento do atacante e armado o bloqueio de maneira correta.
                Se o passe feito no saque não for o melhor esperado, o bloqueio já sabe quais as opções deverá marcar. O meio de rede se direciona a um dos colegas ao seu lado e salta junto. E salta junto não podendo tocar na rede de forma alguma, não podendo invadir o espaço acima da rede do adversário, não podendo encostar uma pontinha de pé que seja do outro lado da quadra. Só depois que a jogada encerrar e o ponto ser confirmado. E se o ponto ocorrer no bloqueio, você ouvirá um longo e celebrado “uuuulllllll”, que pode vir de todos os lados. Seja do treinador, do colega de time, de alguém na torcida, o fato é que um ponto de bloqueio comove e motiva.
                Se nenhum dos movimentos acima encerrar a jogada, podemos estar envolvidos por um rally. Com os times trocando bola, quebrando defesas, dificultando levantamentos, atrasando bloqueios e enfraquecendo ataques. Mas a defesa, a defesa se agiganta a cada segundo de um rally. Depois de 30 segundos, 1 minuto ou mais, os dois lados saem fortalecidos. O vencedor sai aliviado porque venceu um rally, o outro lado sai fortalecido porque participou de um rally. A capacidade de volume de jogo e repertório, tanto técnico quanto emocional, da equipe se apresenta nesse momento do jogo.
                Dois tempos para cada lado são permitidos para os técnicos reorganizarem suas equipes ou eventualmente quebrar uma sequencia positiva de saques do adversário. Sendo curioso que se observa um êxito considerável quando a intenção for essa. Mesmo que depois de uma sequencia de, hipotéticos, quatro pontos sofridos em um ace, um bloqueio bem feito e dois contra ataques. Tudo se inicia no saque, logo é onde tudo começa a chamar a atenção, e é preciso recuperar a bola.
                Se algo acontecer de errado nesses movimentos todos, ocorre um fenômeno muito peculiar do voleibol, seus colegas virão ao seu encontro. Virão ao seu encontro para tocar em suas mãos e dizer algo que o estimule. Seja para levantar depois de uma defesa em que não deu tempo, seja para dar sequencia ao jogo depois de “engolir” a bola em um toque que se ensaiava com quase nada de dificuldade. Não importa o que aconteça, seu time está com você, e afinal, se passaram apenas poucos segundos para o ritual todo recomeçar com mais um saque. 

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