segunda-feira, 31 de outubro de 2016

"Chico não, Vinicius"

Piano bar em Nova York, uma linda brasileira saboreia seu drink ao som do piano. O artista a percebe, encantada com a canção de Sinatra. A melodia embalar o drink, como deve ser. Um senhor charmoso aproxima o fogo, a moça acende seu cigarro. O senhor segue sem interagir.

O pianista acelera, a brasileira é muito bela. E brasileiras gostam de ousadia, é o que ele entende daquele som que os boêmios estão tocando pelos bares à fora no Brasil. E com a sua velocidade característica a poesia atravessou o oceano para fazê-lo se apaixonar por aquele som.

O intervalo assume o som ambiente, um gin tônica é preparado, um bilhete é delicadamente entregue à mão do garçom. O cupido convocado para mais uma missão. A moça abre o guardanapo, sorri. Um gole de satisfação.

O bilhete em inglês oferece a "Fancy lady" uma bela viagem "nice trip back at home" através do som poético de Chico Buarque de Holanda. Ela sorri, não olha para os lados, e puxa uma caneta. Ele não acredita, uma pedra de gelo se solta das outras em seu copo. O perfume de Gin Tônica adoça o ar. Ela puxa um guardanapo. Escreve. Dobra delicadamente. E deixa em cima do piano, antes do artista chegar ao seu espaço.

Poucas palavras, e uma interrogação. Com um recado simples, ela respondeu à sua proposta. Enquanto ela acendia um novo cigarro à porta do Piano Bar, ele lê:

"Chico não, Vinicius".

E vai embora daquele Piano Bar, quando ele começa a tocar Garota de Ipanema. Ele prefere as que não são clichês. Embora dance com o mesmo senhor que acende seu cigarro anteriormente, na calçada ali mesmo. E depois segue em seu doce balanço a caminho do mar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

terça-feira, 11 de outubro de 2016

"Carta de manifesto a Tristeza"

(Toc toc)

Já sei, é você de novo batendo na porta. Me deixe em paz. Você e a ansiedade podem sugar de outra pessoa a felicidade e atrapalhar seu dia. Para mim já basta, agradeço os belos momentos vividos juntos. Belos? Você estava me atormentando demais até para turvar a beleza, até a sua própria beleza. Aliás, como atormenta à todos, inclusive os belos, infiltrando um nesgo entre raiva e rancor no lugar de muitos sorrisos.
Já sei, como um belo peso enorme nas costas, vem você rolando porta a dentro, confundindo minhas ideias e domando minha energia. Por ora, vou te escutar. Não porque eu te ame, porque você jamais me conquistou e seria muita arrogância e imaturidade sua acreditar nisto. Mas porque você me cansa, e só me resta deixá-la com seus gritos, suas reclamações, suas exigências, até que a Deusa do Eco me perdoe.
Já sei, você mexeu em sua trança se gloriando por se sentir importante, mas até a sua beleza é entristecedora. Você não sorri e nos cansa. (toc toc) , você não percebe que a porta bateu de novo, nem que eu acendi outro cigarro, quando percebe é para ser o sermão, a raiva de outro alguém, (toc toc). A música fica mais intensa, mas você não se reserva aos tons menores,  precisa de mais homenagens. E recebe as minhas lágrimas, que lutaram com orgulho até o momento em que puderam. Mas você não vai me levar.

(som de impaciência do lado de fora)

Já sei, você grita, (toc toc) antes que eu diga que sei, (toc toc), e como uma boa inquisidora vira o jogo e me cala (toc toc). Talentosa, me faz de atriz pornô e goza em minha cara toda sua dor. Você está pronta (toc toc) para se realizar e começar a sua dor novamente. Sem olhar pra você, eu limpo meu rosto com uma toalha e peço sem emoção que você saia, há uma nova chinelada, uma nova crítica, uma nova energia sua para me fazer limpar o rosto novamente.


Chuva de aparelhos

Depois do almoço chove aparelhos na porta do poeta. O almoço pede um descanso, a calçada convida para sentar. Chove na calçada do poeta em um dia de sol. 

O vento abre a caravela do manifesto pela vida, mas você precisa ir até lá para entender o que isso quer dizer. Mas preste atenção, pois pode tropeçar em gostas de chuva em dias de sol, e de chuva também. Muito próximo às paredes, ou soando rápido em um espio. 

Há inúmeros aparelhos chovendo em bips, toques, canções, alguns vão de fone de ouvido alguma canção para ouvir. Na casa do poeta a modernidade chegou ,sem o susto do passado sobre o futuro. Naturalmente você não vai tropeçar em gotas de chuva em dias de sol, e de chuva também, pois estamos todos na mesma nuvem, trocando dados. 

Mas se eu puder ser atrevido, em toda esta cena eu estava sem o meu guarda chuva celular (sic) , ele seguido me diz: "vai dar uma banda sem eu, deixa eu carregar desligado". Enxergar a poesia depende apenas de querer enxergar.