sábado, 30 de maio de 2015

Serendipidade

Serendipidade

      Aquela hora em que algo muda. Julio realmente não sabia o que aconteceria quando saiu de casa aquela manhã. Pensava muito sobre coisas vagas, garotas erradas, algum emprego desestimulante, e os resultados da rodada do dia anterior. No meio disso algo muito vago sobre a garota certa, alguma fantasia sobre viajar no tempo, e curiosidade sobre como a mestatase pode vir a ser vencida. Enfim, coisas que ele ainda não se propõe a dar a devida atenção.
         Mas é de manhã, ele tem um trabalho chato para repetir mais um dia e novamente guardar dentro de sua mente novas ideias para melhorar aquele ambiente. E ficar no silêncio, e não se encontrar no olhar perdido de quem anda em círculos, acumulando cálculos matemáticos e raciocínio lógico sem perceber. Afinal, porque prestar atenção em onde está indo. Tudo era tão confuso e tão desconexo quanto a frase anterior soou poder ser escrito com qualidade e, principalmente, mais clareza.
       Mas siga no trote com Julio, esses passos por ora perdidos o levarão a algum lugar. Todos temos a nossa chance, alguém será a vírgula dessa história. Nesse caso, a curva bacana, daquelas que é legal observar do outro lado antes que alguma das suas verdades também lhe apresentarem à sua curva. Depois que ele atravessar mais um dia desses que não mudam ele irá se encontrar com Bob e Jaime, seus amigos.
       Uma coca-cola, uma cidade, uma noite vazia. Taxis que não se movimentam e uma noite modorrenta. A roupa suja expressando o desleixo com tudo o mais e o assunto em looping quase eterno, até que... Jaime escuta alguma reclamação de Julio, Bob fecha a cara. Jaime solta apenas para o ar a pergunta decisiva, Bob carimba em cima. Julio primeiro escuta, depois assimila. Com o estômago vazio de algo que alimentasse o corpo, mas cheio de coca-cola, sentiu o aviso. E antes que o olhar se encontrasse, entendeu o quanto ainda estava perdido. E com isso, se encontrou.
       Na manhã seguinte foi trabalhar feliz, havia um plano e havia um lugar para ele encontrar. Jaime lhe apresentou um caminho, Bob carimbou esse caminho. E coube a Julio, em seu tempo, sentir os passos, tornar garotas erradas e o emprego desestimulante em coisas vagas, se divertir com os resultados da rodada do dia anterior. Um dia ele questionaria mestatases, se tornaria o cara certo para alguma garota que precisaria encontrar o seu próprio olhar também. E viagens no tempo? Bom, calças xadrez e um copo de wisky sempre o acompanhariam no futuro. 

domingo, 24 de maio de 2015

O pênalti decisivo


    Bola na marca da cal. Nove metros e quinze, um jogo a ser decidido. Uma carreira a ser decidida. Um filme passa em frente ao jogador que vai bater o pênalti. O goleiro do outro lado nem faz noção disso e se movimenta de um lado para o outro, provoca, aponta um canto e grita. O juiz apita.
    A carreira toda passa em frente daquela bola, o atleta sabe a responsabilidade que tem. O gol confirma muita coisa, o adversário é forte e exigente. O pênalti foi a confirmação de um bom trabalho no ano todo, a confiança dos colegas em deixá-lo bater também. Não está sozinho, e isso lhe impulsiona.
    O tão sonhado contrato na Europa, que só ele sabe que está quase acertado. A tão sonhada classificação para a Copa Sul-Americana. Poder resolver a vida da família, a vida dos amigos, cumprir o seu dever. Fazer a torcida feliz, esperançosa de algo muito novo na vida do clube, e orgulhar os dirigentes. Deixar um bom dinheiro em caixa para o clube honrar seus compromissos. Tudo isso resumido em uma bola, a vida resumida naquele lance.
     Um filme passa em sua cabeça, ele já sabe onde vai bater. Treinou bastante, desde que o antigo treinador lhe designou a função em janeiro na pré-temporada. Acertou muitos, errou alguns, e evoluiu. Se sente seguro para essa responsabilidade. O capitão foi quem lhe entregou a bola antes de ajeitá-la para a cobrança. E o zagueiro com quem não tem uma boa relação, da intermediária, fez questão de acenar com a cabeça o seu apoio.
     O mundo fica em suspense, mas o tempo não para. Ele corre para a bola, ela vai para o fundo da rede. Seu time vence, se classifica para a Copa Sul-Americana, os colegas vão lhe abraçar no vestiário. Na entrevista após o vestiário, o capitão o acompanha, sabe do quanto ficou emocionado. Para o repórter após dizer que foi um ótimo ano e estava aliviado com o feito, agradeceu aos colegas, os dirigentes e os três treinadores que passaram pelo clube na temporada. Encerrou pedindo para mandar um recado para a esposa, que surpresas boas viriam para a sua família.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O mundo incrível

O mundo incrível.

                Metas, planejamento, muito estudo, desenvolvimento e dedicação. Um dos tantos caminhos da entrega total ao processo. Realizar sonhos exige empenho, determinação, envolvimento, sentir prazer em cada passo ao longo do processo. E sonhar!!! Sonhos que não são sonhados não são sonhos, e um mundo melhor se alimenta da realização desses sonhos. Esses sonhos que configuram o diálogo entre sua mente e seu coração.
                Um mundo incrível se apresenta para quem sonha. Um mundo que se movimenta na velocidade de uma boa ação, na direção de um sorriso cheio de dentes fluindo num rosto determinado. É quando a mágica toma conta da experiência, envolvendo o momento. Aproximando as pessoas, aumentando a intensidade das ações, e o sentimento de que está fazendo parte de algo digno.
                De repente, cada habilidade se encaixa, e quem poderia estar-se sentindo só, não se sente mais. Há companhia, a abençoada garantia de que há um sonho que é sonhado em conjunto. E assim, cada um traz o que há de melhor, e isso ilumina o caminho. Contra o vento forte todos abraçados, contra os momentos de pouca luz, mãos dadas fortalecem os passos na direção de mais claridade. E contra o desânimo, porque momentos de testes sempre irão nos exigir, os amigos. Para que mais se acredita na realização de um sonho se não para dividir o resultado e a alegria dessa experiência com quem está próximo?
                O mundo incrível então toma forma, há quem está falando por ele, há quem está falando dele. E há quem está se movimentando por ele. Logo, o mundo incrível existe, dentro do coração de cada um de nós, para nos impor uma força surpreendente  que habita em algum lugar dentro da gente. E depois de tomar consciência disso, estamos em um caminho sem volta.

                Nesse mundo incrível há muitas luzes, muitas cores,  muitas possibilidades, mesmo que pouca coisa tenha mudado, em volta. Porque dentro tudo mudou, 31 mentes envolvidas com um pequenino pedaço do mundo podem ajudar a construir um mundo incrível. E toparam entrar nesse caminho. Enxergaram a união de todos os amores, e a energia e carinho com que isso envolve os nossos sonhos. E depois de tomarmos consciência disso, encontramos nosso caminho de mão única, na direção de um mundo incrível. 

terça-feira, 5 de maio de 2015

Pistache

          Julia pensa que seria um bom dia para tomar um sorvete enquanto arruma seu quarto, e conversa ao telefone pelo viva voz com sua mãe. Comentam que estava um dia bonito para ser bem aproveitado, mas que tinham muitas coisas a fazer. Mas Julia está de bom humor, enfim, coisas a fazer são coisas a fazer e não coisas a temer. Ela tentou explicar a diferença para a mãe, mas não quis se estender. Sua mãe já estava feliz por escutar sua voz em bom humor.
          Julia se lembra de um colega de faculdade, daqueles com quem se tem pouco contato e se sabe muito pouco. Isso a faz lembrar do último trabalho do mestrado a ser enviado, e liga para o colega com quem está desenvolvendo a ideia. Bãããñnnnn , quando ela se dá conta que o nome dos dois colegas é o mesmo,e a única coisa que muda é a relação dela com cada um. Estranho, está um belo dia lá fora, ela pensa.
         Julia comenta com o colega sobre o prazo e o que podem fazer para acelerarem as coisas. Um carro passa à toda velocidade por ela, firme ao solo, mas muito veloz. Bãããñnn , quando ela escuta uma voz carinhosa dizer:

- Come com cuidado esse sorvete Julinha, essa casquinha não está muito firme e é muito grande pra ti, filhinha.

        É apenas uma mãe cuidando de sua filha enquanto tomam sorvete saboreando um bonito dia. Julia entra na sorveteria que as duas saíram e pergunta qual o sabor que aquela menininha havia pedido.

- Pistache,   diz o atendente.

Bããããnnnn , é o sabor preferido de Julia.