Serendipidade
Aquela hora em que algo muda. Julio realmente não sabia o que aconteceria quando saiu de casa aquela manhã. Pensava muito sobre coisas vagas, garotas erradas, algum emprego desestimulante, e os resultados da rodada do dia anterior. No meio disso algo muito vago sobre a garota certa, alguma fantasia sobre viajar no tempo, e curiosidade sobre como a mestatase pode vir a ser vencida. Enfim, coisas que ele ainda não se propõe a dar a devida atenção.
Mas é de manhã, ele tem um trabalho chato para repetir mais um dia e novamente guardar dentro de sua mente novas ideias para melhorar aquele ambiente. E ficar no silêncio, e não se encontrar no olhar perdido de quem anda em círculos, acumulando cálculos matemáticos e raciocínio lógico sem perceber. Afinal, porque prestar atenção em onde está indo. Tudo era tão confuso e tão desconexo quanto a frase anterior soou poder ser escrito com qualidade e, principalmente, mais clareza.
Mas siga no trote com Julio, esses passos por ora perdidos o levarão a algum lugar. Todos temos a nossa chance, alguém será a vírgula dessa história. Nesse caso, a curva bacana, daquelas que é legal observar do outro lado antes que alguma das suas verdades também lhe apresentarem à sua curva. Depois que ele atravessar mais um dia desses que não mudam ele irá se encontrar com Bob e Jaime, seus amigos.
Uma coca-cola, uma cidade, uma noite vazia. Taxis que não se movimentam e uma noite modorrenta. A roupa suja expressando o desleixo com tudo o mais e o assunto em looping quase eterno, até que... Jaime escuta alguma reclamação de Julio, Bob fecha a cara. Jaime solta apenas para o ar a pergunta decisiva, Bob carimba em cima. Julio primeiro escuta, depois assimila. Com o estômago vazio de algo que alimentasse o corpo, mas cheio de coca-cola, sentiu o aviso. E antes que o olhar se encontrasse, entendeu o quanto ainda estava perdido. E com isso, se encontrou.
Na manhã seguinte foi trabalhar feliz, havia um plano e havia um lugar para ele encontrar. Jaime lhe apresentou um caminho, Bob carimbou esse caminho. E coube a Julio, em seu tempo, sentir os passos, tornar garotas erradas e o emprego desestimulante em coisas vagas, se divertir com os resultados da rodada do dia anterior. Um dia ele questionaria mestatases, se tornaria o cara certo para alguma garota que precisaria encontrar o seu próprio olhar também. E viagens no tempo? Bom, calças xadrez e um copo de wisky sempre o acompanhariam no futuro.
sábado, 30 de maio de 2015
Serendipidade
domingo, 24 de maio de 2015
O pênalti decisivo
Bola na marca da cal. Nove metros e quinze, um jogo a ser decidido. Uma carreira a ser decidida. Um filme passa em frente ao jogador que vai bater o pênalti. O goleiro do outro lado nem faz noção disso e se movimenta de um lado para o outro, provoca, aponta um canto e grita. O juiz apita.
A carreira toda passa em frente daquela bola, o atleta sabe a responsabilidade que tem. O gol confirma muita coisa, o adversário é forte e exigente. O pênalti foi a confirmação de um bom trabalho no ano todo, a confiança dos colegas em deixá-lo bater também. Não está sozinho, e isso lhe impulsiona.
O tão sonhado contrato na Europa, que só ele sabe que está quase acertado. A tão sonhada classificação para a Copa Sul-Americana. Poder resolver a vida da família, a vida dos amigos, cumprir o seu dever. Fazer a torcida feliz, esperançosa de algo muito novo na vida do clube, e orgulhar os dirigentes. Deixar um bom dinheiro em caixa para o clube honrar seus compromissos. Tudo isso resumido em uma bola, a vida resumida naquele lance.
Um filme passa em sua cabeça, ele já sabe onde vai bater. Treinou bastante, desde que o antigo treinador lhe designou a função em janeiro na pré-temporada. Acertou muitos, errou alguns, e evoluiu. Se sente seguro para essa responsabilidade. O capitão foi quem lhe entregou a bola antes de ajeitá-la para a cobrança. E o zagueiro com quem não tem uma boa relação, da intermediária, fez questão de acenar com a cabeça o seu apoio.
O mundo fica em suspense, mas o tempo não para. Ele corre para a bola, ela vai para o fundo da rede. Seu time vence, se classifica para a Copa Sul-Americana, os colegas vão lhe abraçar no vestiário. Na entrevista após o vestiário, o capitão o acompanha, sabe do quanto ficou emocionado. Para o repórter após dizer que foi um ótimo ano e estava aliviado com o feito, agradeceu aos colegas, os dirigentes e os três treinadores que passaram pelo clube na temporada. Encerrou pedindo para mandar um recado para a esposa, que surpresas boas viriam para a sua família.