quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Setembro

                Chegou,  gritando alto. E de longe. O que torna tudo próximo. Muito bem referendado, havia alguém dobrando os sinos, enquanto o alinhamento se apresentava. Uma onda suave renovando a atmosfera, a cicatriz. E dois mosquitos pousaram e um joelho.
                O sono do repouso, dormir e acordar curado. Pouco importa o cansaço ou o dolorido ou a madrugada divertida ou a canja de arroz ou os dois pacotes de bolacha. A diversão da anestesia que gerou o primeiro passo. Um passe, uma benção no quarto ao lado, inúmeras mensagens de corrente em uma. Um dia que amanheceu em paz na rua em que nasci.
                Setembro da cura e do caos. A tempestade de areia de março chegou em setembro, muito carinho, liberdade, 23 , uma iniciação, bênçãos e felicidades. E alguma dureza nas regras do jogo. O corpo cansado e a mente cansada.
                A onda suave mostrou a que veio, um desenho de um planetário e um laço forte. Todas as orações em uma, e uma ajudando a compor o coro de orações. A gratidão, por compreensão e efeito. A eterna companhia por abençoado reflexo.
                Mamãe soprou velinhas no dia em que espantou dois mosquitos do meu joelho. Teve música, teve a família e teve felicidade. Um lar sonhado, vivido e amado. A pracinha e seus patos comigo na garoa, tocos de cigarro no lixo. E o Rock in Rio me dando boa noite.
                A lição de humildade e a felicidade pela felicidade, pelo simples compromisso com a felicidade. Seja a minha felicidade, a sua, ou a daquele cara que se ergueu e foi reconhecido pelo seu valor, ou a daquele que foi para outra cidade e depois do réveillon voltou sorrindo ao dizer boa noite. Cada um atravessa a sua rua.  E se você perceber isso acontecendo, observe bem. Cada pessoa é uma estrela cadente em constante supernova. A cada encontro faça seu pedido. 

                Uma história concluída e o cheiro do mar. A areia das pirâmides também está no mar, e as duas estão aquecendo meus pés, se quebrando quente do jeito que eu gosto de lembrar da infância. O mar leva para longe as tristezas, cada onda é um sorriso recuperado e um novo sonho a ser realizado.

domingo, 13 de setembro de 2015

Jornais

Jornais

            
         Extra! Pai é recebido na porta de casa pelo casal de filhos, que o aguardavam ansiosos para saber como foi o dia no trabalho. A esposa sorri assistindo a cena, ele retornou. Sorrindo. E sorrindo se entrega para o momento. A calçada está varrida e o ambiente bonito e feliz. Tão estranho para quem fica, mas isto é para outras histórias reais de outros seres imaginários. Nada mais do que um caminho que se passa, o pai explica para o filho no seu colo. De mãos dadas com a filhinha dá um beijo carinhoso em sua esposa.
            Extra! Artistas de rua agem em ação silenciosa e rua que já assistiu muita tristeza, amanheceu bela, colorida e com mensagem de apoio aos familiares dos jovens que partiram. Uma mãe que passava pelo local se emocionou e agradeceu aos dois rapazes que ofereciam suas “mímicas do abraço” (segundo eles) pelo carinho recebido. “Foi de tocar o coração, meu filho não voltará para casa hoje, mas eu voltarei em paz , porque esses meninos estão fazendo o que o meu faria se estivesse aqui”. O carinho não alivia, apenas consola. E o medo é um abraço, tão distante de quem fica.
                Onde vai? Nós estamos de passagem. Onde a rua nos abriga desse frio. Eu vou te encontrar, está marcado. Gratidão por sorrir comigo. Estamos sempre de partida, mas a rua nos abriga desse frio.
           Extra! Senhor anônimo tem sido visto andando pelas ruas abordando moradores de rua. Segundo relatos, ele chega em seu carro, oferecendo sopa quente e um copo de agua para todos. Mas há pães para quem está com mais fome, e cobertores para substituir o frio. O curioso nessa história é que, segundo o próprio senhor (que não quis se identificar, quando abordado pela nossa equipe), há apenas uma exigência -  muito inusitada por sinal: em troca da alimentação, é pedido aos moradores de rua que opinem sobre as noticias dos jornais que os aqueciam até que os cobertores chegassem, assim pode conhecer mais de cada um. A verba para esta ação vem de amigos que toparam participar, oferecendo produtos e dinheiro para que o máximo de pessoas sejam atendidas. Perguntado sobre o desafio, o senhor disse: “A calçada não é pai, não é mãe, não é nada além de um refúgio, um abrigo. Tão distante para quem passa. Algo precisava ser feito e há muita gente querendo ajudar. Eu apenas ofereço. E é como um professor amigo me disse certa vez, quem sai energizado sou eu, porque é nessa troca em que se escondem os tesouros que a gente busca. É o que eu penso pelo menos.” E sorrindo se despediu da nossa equipe.
               Extra! As pessoas estão sorrindo nesse domingo de manhã. Esta é a noticia que eu quero ler nos meus jornais, e nenhum de nós irá desistir até que você esteja sorrindo também.   E esta é a noticia boa por que tanto esperamos.

                

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Polaroid

Polaroid

                Um som atrás dele. Vindo do corredor. Mesmo virando-se rapidamente, apenas uma mancha na parede.  E um forte cheiro de Bourbon. Um ar novo, algo está acontecendo. No bar onde ele estava. O estalo de uma luz e uma mancha na parede.
                Algo novo está acontecendo, o sol cai bem para momentos assim. Não importa onde está, sua vida não era mais sua vida. Ela estava okey, fosse andando pela avenida ou encarando a distância bosque à dentro. O brilho de um registro.
 Contando segredos e mais segredos, sua pele brilhava. Duas maçãs sorrindo para mim, ela é linda. O café perfumava aquela manhã. O corte no rosto não mudava nada, ela brilhava como em um nirvana. E começou a correr. Fugindo da inercia da imagem.
Para bem longe, como quem é perseguida. Como quem está andando em um bosque. Ela brilhava. Feito um flash em uma polaróide.
Passávamos todos os dias na mesma posição, ela deitada, eu deitado. E sangrávamos. Sorrindo como loucos. Luz que ilumina e poderosa por conter a solidão, mesmo distante. De todas elas, para ela foram minhas frases mais preciosas.  E a mim só sobraram moscas.

E um belo jardim, e muitas, muitas, muitas imagens bonitas. Registradas como um flash em uma polaróid, impressas na tela e a distância. A paz de um bosque e uma nova imagem nos unindo.  

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Sinais de fumaça

Sinais de Fumaça

                Histórias de garotos e garotas. Observo isso a toda hora. Alguém caminha pelo silêncio, achando que não é observado. Sinais de fumaça o faziam se sentir mal. Mas chegou aonde queria, e o silêncio ficou dentro de uma boca muda e triste. A dele chegou agradecendo. Palavras vazias entre os dentes ficam para quem está vazio.
                Obrigado por me receber, eu quero ouvir suas histórias. As felizes, as de primavera, as de setembro. Algum dia as águas de março desaguam em outro oceano. Quais são as suas histórias? Estou sentado como se estivesse em casa, aceitando o calendário.
                Garrafas de fumaça guardam o que sei. Tanta sabedoria envolvida, desaparecendo em pequenas porções. Surgindo novamente, em uma nova história, com outra garota, com outro garoto. Ou até com uma mulher, e um homem. Todos crescem, não é mesmo?

                Obrigado por me receber, eu vim para encontrar suas histórias. Não estarão no fundo de um baú solitário e triste. Algum dia se evapora o que se foi, como todo ciclo natural. E o sorriso triste apodrece. Para o meu eu quero vida, e vou me inspirar em suas histórias. O rosa é apenas uma cor, como qualquer outra. E não precisa se sentir mal com os sinais de fumaça.