sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O bilhete

      A rua anda diferente e Lana está apressada. Está armando chuva, mas ela não se importa. A rua está diferente e Lana não nota. Não percebe o papel na mão da amiga que a acompanha, muito menos sua reação ao ler o que está escrito. 
       A rua está diferente , outra moça passa por elas rindo com um papel na mão. Lana não percebe, está apressada para chegar à faculdade. Alguém espirra do outro lado da rua, a amiga comenta algo sobre o rapaz que espirrou. Lana está com as questões da prova em sua cabeça. 
     A amiga havia falado em bilhete, Lana teve uma boa ideia de repente. Vai anotar em um papel as palavras-chave da matéria que tem prova. Assim fica mais fácil, é o seu jeito de estudar, e ela se incomoda por só pensar nisto agora. O seu bloquinho de folhinhas rosas e post-its coloridos não está na bolsa. A amiga também não tem. Mas Lana havia acordado diferente, e estranhamente desatenta, e há poucas horas de uma prova de final de semestre. Então Lana percebe como a rua está diferente.
        Do chão pega um pedaço de papel dobrado, da mesma cor do seu bloquinho com post-it. Pode aproveitar o verso para escrever o que precisa e... Quando abre o papel encontra uma intrigante e divertida mensagem que a faz rir, esquecer da prova por alguns instantes e relaxar. Sorrindo,  diz para a amiga guardar o seu bilhete porque ela havia encontrado o dela, que dizia:

"Sou bacana, amigo e cheiroso
 Gente boa, lindo e companheiro
 Mais do que isso não posso falar
 Assim como você, eu também tenho vergonha.
 Me descubra : ) "

        Lana não pensou mais na prova, foi mais fácil do que imaginava. Escrever as palavras-chave no outro lado da mensagem que a fez sorrir bastou. Enquanto lia o bilhete, Lana não atendeu ao telefone e achou interessantíssima a história que a amiga contou sobre a chuva de bilhetes que amanhecia em sua rua essa semana. Algo quando a amiga disse "e é apenas nessa rua" intrigou Lana, ela decidiu descobrir quem é tão gente boa e bacana assim para fazê-la sorrir antes de uma prova de final de semestre.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Prédio Rio Branco, Apto 303

              Lana desce as sacolas do supermercado. Depois de abrir a porta do apartamento com alguma engenharia. As 3 da tarde costuma-se entrar sozinho no elevador no Prédio Rio Branco. O senhor da portaria, que Lana ainda mal conhece, estava envolvido em algo longe do estacionamento e não precisou do elevador até o 3º andar. Restou a companhia de suas sacolas do mercado. Lana e seu novo lar.
              Ao abrir a porta e colocar uma sacola pesada para calçá-la, Lana recebe as boas vindas do prédio: uma ata com as normas "oficiais". E algo contrasta à sua frente. O violão do marido repousando no sofá da sala e a terceira linha da ata informando que está expressamente proibido tocar instrumentos no Prédio Rio Branco, não importa a hora ou o dia. Lana pensa que o marido não vai gostar de saber disso. Um dos planos de se mudarem era a liberdade de tocar  violão e a felicidade de terem uma sacada. 
              O marido liga dizendo que receberão aquele casal de amigos para estrearem o apartamento. Lana pensa na felicidade que foi contratar a senhora indicada pela Imobiliária para limpar o apartamento 303 no dia de hoje. O casal de amigos são ótimas companhias, mas nem por isso vamos recebê-los na bagunça não é mesmo? Lana comenta sobre algumas notificações para o marido, que já parecia saber da restrição a instrumentos musicais. E não demonstrou nenhuma emoção que indicasse que isso fizesse diferença em sua rotina.
             8 horas da noite, Lana está na cozinha. É surpreendida pelo marido enquanto cozinha. O cheiro de vida nova no novo apartamento, o beijo apaixonado, a felicidade do casal. Um apartamento com sacada para dividirem o seu cigarro ao final do dia e verem um novo dia nascer a cada amanhecer. Um apartamento para ele tocar seu violão e ela ler seus livros. Não importa o que as normas "oficiais" dizem, no apartamento 303 do Prédio Rio Branco há boa convivência com os vizinhos e um violão trilhando belas canções. E ninguém se importa com isso.
             A campainha toca, é a primeira vez que os dois têm o prazer de escutar visitas chegando ao seu novo lar. E como isso é tão bom. Os amigos chegaram ao apartamento 303 do Prédio Rio Branco.


sábado, 7 de novembro de 2015

O que desejar a alguém.

O que desejar a alguém?

                Um banco em frente ao mar, final da tarde. O sol lentamente descendo e depois se pondo. O anil do azul abençoando o anil do laranja mergulhando no mar, o mundo está em paz. Uma cabeça em um ombro, alguém para abraçar. Respirações em sintonia, o vento farfalhando as folhas da árvore mais próxima, e alguém para amar. O doce fim de tarde que vira noite, a primeira estrela a brilhar. Lana respira embalada por este momento.


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Aviãozinho de papel

      Algo toca os seus cabelos, Lana tira as mãos do bolso e descobre um aviãozinho de papel. Antes de perceber como isso seria surpreendente, um garotinho de macacão e passos cambaleantes vem em sua direção. Lana acha graça do garotinho.
      A mãe do garoto um pouco envergonhada, um pouco vendo graça da reação de Lana, se desculpa. O garotinho recebe o aviãozinho e um cafuné, agradece a moça sorridente e sorrindo, prepara mais um voo de seu brinquedo. A mãe conta o nome dele para a moça e divertidamente vai em direção de seu filho.
     Lana encontra suas amigas, que olham com cara de piada para ela. Uma delas não se aguenta e pergunta:
- Mudou o penteado Lana?
Entre as gargalhadas das moças à sua volta e ajeitando seu cabelo, Lana responde:

- Um aviãozinho de papel pousou no meu cabelo, e tirou minhas mãos do bolso. 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Família

               Uma criança com o joelho arranhado sentada na calçada, um senhor se aproximando. Antes que o aviso de “vai arder” termine, o garoto já sentiu o quanto aquele arranhão vai arder. Agradece ao avô e sai correndo novamente, agora já sabe que a ardência é uma companheira que às vezes lhe visitará em suas brincadeiras. Coisas de criança.
                Duas meninas e um menino, meio perdidos, meio atentos. Comportados, esperam não ser alvo das dúvidas dos adultos. Crianças não entendem os adultos, que não entendem as crianças. Mas todos irão se compreender, com o tempo e com amor. As duas meninas e o menino estão crescendo juntos.
                O cheiro de pão novinho vindo do forno, o café da tarde. A doce mamãe e a sua criançada. Quer estejam falando sobre bonecos, bonecas e bolas. Quer estejam falando sobre o futuro, porque acham que sabem demais daquilo que estudam. À doce mamãe a sua criançada.
                O grito de gol que felizmente se repete, se alcança e se sonha. Uma bola e um guri de seis anos dando seu primeiro chute. O mesmo time e o mesmo talento também com outra bola. Enfim, alguém que segue os passos de papai.
                O sorriso da vovó a iluminar um jardim inteiro, cinco crianças correndo do seu jeito. Ela diz para serem cuidadosos, mas sabe que eles não a escutarão. Essas crianças de hoje em dia são muito urgentes em suas brincadeiras. Ela ri boba quando as meninas perguntam se ela passeava com o vovô por este jardim quando eram namorados. Ela diz que em um jardim parecido, esse é novo, ela reservou para as crianças brincarem.

                Duas doutoras, elegantes em seus trabalhos e destacadas naquilo que fazem por amor à profissão. Lindas como só Paris poderá me contar um dia. Com livros e muitos conselhos sobre disciplina indicavam que o estudo é o melhor caminho. Até que um dia conseguiram explicar que suas qualidades vinham da sua cultura e não de suas posses. E o que era ilusão simplesmente se realizou. Abençoados sejam os sonhos e o caminho das suas realizações.