terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Contos do Bom Reino - Os cavalos selvagens

Contos do Bom Reino - Os cavalos selvagens

Existe uma tradição no Bom Reino. Com pelo menos um encontro por ciclo, o Bom Rei convida toda a comunidade do Bom Reino para a corrida dos cavalos selvagens.

Estão todos postados de forma confortável, com uma leve brisa e o Sol a aquecer uma multidão no alto de um morro. A recomendação é de silêncio, e todos acompanham. O Bom Rei levanta o braço esquerdo, ergue o braço direito e um lindo som de instrumentos de sopro tomam conta do vale. Os cavalos são lançados.

Os dourados portões são abertos para o grande desfile. A beleza não é apenas a do bom cuidado dos animais, o desfile é uma simples corrida livre do plantel, solto e selvagem. Uma linda corrida livre de um ser que ama aquele tipo de oportunidade.

A multidão permanece em silêncio, com cada pessoa dedicada a recomendação do Bom Rei: se dediquem a encontrar o seu cavalo, e depois acompanhe a sua corrida. O que acontece então, é a multidão envolvida pelo movimento da manada. As crinas ao vento, o movimento intenso, quase com sede pelo próximo passo e a intensidade da entrega ao próprio corpo. O Bom Rei percebe algo que ele definirá no futuro como "o momento em que o silêncio aumentou", para definir o sentimento de encontro de cada sujeito com seu cavalo.

A tropa faz a volta no vale, o que os lembra aos poucos que a corrida selvagem também tem seu ponto de renovação. E se deparam ao desacelerar os deixar próximos da multidão (mesmo que ainda muito distantes), o que promove os encontros que você está pensando. Cada pessoa e seu cavalo. Alguns têm alguma distância de apenas uma troca de olhares, outros conseguem uma troca maior.

Uma menininha se aproxima do Bom Rei, e quebra o silêncio:

- Qual o seu cavalo Bom Rei?

Sorrindo, ainda para seu cavalo, mas deixando claro para todos a sua atenção e carinhos dedicados para a criança:

- Aquele ali...

Antes da criança pedir uma orientação, ela se calou. Um lindo Akhal Teke reluziu sua pele dourada , e se ergueu em direção a multidão.

- E sei que a sua é aquela linda Puro Sangue Árabe de fios de crina e olhos violeta.

A multidão em silêncio permanece assim até o final da tarde, quando o último dos cavalos naturalmente adentra os dourados portões repletos de amor e de felicidade. A sua corrida acalma os humanos, que os acalmam ao assistir seu correr com tanto carinho. Os cavalos selvagens dormem tranquilamente no Bom Reino.