- Calma aí, o piano já vai começar...
Rico e
tolo, lado a lado, conversando animadamente, desviando os pés de pétalas pelo
caminho. Alguém lhes disse para contar as flores e eles não toparam. Preferiram suar as mãos, andar por aquele
corredor e abrir as portas. As pétalas lhe indicavam um caminho.
“Então
vamos contar flores” , disse o tolo para o rico, que pensou em como ocorria a
distribuição daquelas belas rosas para chegarem a eles. O tolo sorri ao ver a
expressão do rico, se levanta, oferecendo a mesma pétala que cheirava para o
amigo. “Os sonhos não se vendem, meu caro”. O rico torceu o lábio crispado,
olhou para a pétala e antes de bater na porta respondeu:
-Talvez meu caro (e nesse momento
você pode imaginar a expressão que quiser para o rosto do rico). Mas não pense
que não tenho minhas cicatrizes, por muitos momentos bater em portas
significava olhares estranhos e pouco diálogo. Até deixar de ser divertido.
O
tolo entendia aquilo. Encontrava esse sentimento em todas as boas vindas que
deu para sorrisos sem graça. Em cada sorriso que ofereceu para pessoas mal
humoradas, e o silêncio por se questionar “será que eles me entendem?”. Mas
estavam apenas rindo. E o tolo ria junto. Não se sentia mal por ser a piada,
ele entendia. Alguns contam dinheiro, outro pétalas.
Mas
à sua frente havia alguém que contava dinheiro, e contava também suas
histórias. Como se visse em cada uma, pedaços de um amor. E o tolo passou a
sonhar com mais do que aquelas pétalas, e a porta a sua frente se tornou um
lugar feliz. Porque atrás dela havia alguém para receber.
Enquanto
ouvia o amigo olhando as pétalas, sentiu uma vontade imensa em saber algo mais.
Depois de ouvir sobre algo que envolvia um senhor em um piano tocando com a
janela aberta “Let it be foi a senha daquela noite, e essa foi a boa surpresa
entre tantas luzes e boas decisões”, perguntou:
- Quando foi que os sonhos
passaram a ser permitidos e as histórias ficaram mais felizes?
O rico disse, sorrindo para o
amigo, oferecendo uma pétala:
- Quando comecei a contar flores.
E a porta se abriu.