domingo, 25 de maio de 2014

Isqueiro esquecido

            Dois amigos conversam sobre coisas à toa , pela rua onde costumam viver parte de sua rotina ao longo da semana. Mas é domingo e é final da manhã. Eles gostam daquela mudança , quase que completa de atmosfera. Um segura a guia do seu cachorro, o outro procura um isqueiro no bolso. Como esqueceu em casa, não faz o que queria fazer e se concentra na conversa.
            O rapaz do cachorro , conta animado e frustrado ao mesmo tempo  sobre uma ligação telefônica da sogra. Em pleno horário de almoço, durante uma reunião com o chefe e alguns colegas. E a situação era surreal de tão engraçada, e ele não podia rir como queria ao desligar o telefone. Enfim, o tipo de situação que só em conversas com certos amigos para se esvair , do momento não vivido e da gargalhada reprimida.
            O rapaz do isqueiro esquecido, depois de rir bastante da cena, e comprar um sorvete, comenta sobre aquele amigo quietão dos dois. Contou que o encontrou outro dia, nessa mesma rua, na hora do almoço, se ele não está enganado. Mas não sabe como ele anda, ou o que ele tem feito dos seus dias. Foi apenas um daqueles ‘joinhas’ jogados ao silêncio, enquanto alguém estava com pressa.

            O cachorro cansa da caminhada, já faz uma hora que segue no trote da conversa dos dois rapazes. E  está com sede, e não se deixa um cachorro com sede. Seu dono o leva para casa, se despede do amigo, que então se dá conta. Se dá conta que estavam os dois juntos , conversando , num ponto próximo da mesma rua, em outro dia, quando viu o tal amigo quietão. Ajeita a jaqueta, pra se proteger de um vento frio que sopra. Percebe um volume no bolso da jaqueta, o isqueiro não havia sido esquecido em casa.