segunda-feira, 27 de junho de 2016

A coleção de CDs e o mercado financeiro

       Recentemente ofereci através das redes sociais uma coleção de CDs para venda. Mas não eram CDs comuns, e sim da banda que anunciei boa parte da vida como a "minha banda preferida". Me desfazer de parte da minha história era algo sólido quando cliquei em "enviar" na mensagem, porém a ideia inicial foi alterada após a repercussão do anúncio.
        E a repercussão influenciou minha decisão, não venderei a coleção de CDs, pelo menos não hoje e talvez este pequeno tesouro fique comigo durante boa parte da minha construção de vida. Porque? Pelo simples motivo de um investimento: assim como você, eu desejo que meus objetos trabalhem para minha prosperidade. E como uma coleção de CDs pode trabalhar para minha prosperidade?
       Simples, avaliamos o retorno imediato do investimento a um produto. Quando iniciei a coleção de CDs personagem desta história, eu tinha muitas espinhas no rosto, nenhuma certeza sobre nada na vida que hoje vivo, e no alto dos meus quatorze anos acreditava que seria importante assumir uma banda como a minha preferida. Já havia escolhido meu time de futebol, e isso parecia algo importante demais para minha adolescência.
     O primeiro retorno então foi o de meta atingida, eu havia encontrado a minha banda. Que cantava canções claramente inspiradas em todo o cenário do Rock n Roll, e como nenhum roqueiro é roqueiro sem tocar um instrumento, o violão chegou ao meu quarto para acompanhar os CDs que se multiplicavam rapidamente. Adquiri uma habilidade para eu mesmo tocar as canções desta coleção. Mal sabia eu que isso traria novos retornos (sic) para o investimento financeiro nos produtos, que na época eram feitos pelos meus pais com seu próprio dinheiro, negociando comigo que os CDs viriam em forma de presentes de aniversário, natal, notas boas no colégio (que nunca aconteceram, se fosse na faculdade, eu receberia ingressos e viagens para as turnês da banda :D ).
     O retorno sequente foi o convívio com uma segunda língua, cantar e escutar canções em inglês não me bastavam. Se eu não aprovasse a mensagem eu não me envolveria com a banda. Quando me dei conta, poucos meses depois do primeiro investimento no primeiro CD eu havia adquirido vocabulário suficiente para conversar com as moças americanas que frequentavam minha casa em visitas á minha mãe e profissionalmente, três anos depois, no mesmo Shopping em que adquiri uma parte considerável da coleção, fui o único funcionário a estabelecer um diálogo com uruguaios que desejavam saber onde ficava o banheiro para lavarem as mãos. Em inglês pude indicar aos clientes a pia oferecida pelo restaurante para nossos clientes. 
     Os retornos não param, e talvez os parágrafos iniciem com eles como tópicos kkkkkkk A segunda habilidade veio com a mesma velocidade, antes de completar um ano do inicio da coleção de CDs, eu já havia preenchido boa parte de um caderno com capa do Inter com letras de músicas. Hoje elas somam mais de 300 canções e se somarão a muitas mais. Hoje você está lendo esta história, porque um dia eu tive coragem para me arriscar na primeira rima, e isso me viciou na linda expressão da criatividade. E quando você estimula a sua criatividade, o mundo passa a te pedir mais das suas expressões.
      O passo seguinte era natural, mas demorou um pouco mais. O retorno em habilidades chegou com tudo, quando conheci o parceiro que formaria comigo a banda dos nossos sonhos. Lotar um bar da sua cidade, apenas porque as pessoas estão interessadas em ouvir você cantar sua banda preferida é um sonho que você deve realizar. Naquela madrugada fria de inicio de primavera, os infindáveis ensaios geraram o valor de R$125,00 para cada integrante da banda. A coleção de CDs gerava dinheiro, em espécie e diretamente para o meu bolso.
     Depois que você realiza algo se afirma o fenômeno que Einstein dizia: "a mente expandida não retorna ao seu tamanho anterior." O passo seguinte foi me testar na vida acadêmica. Meu violão, minhas camisetas do Oasis e a trilha sonora no meu fone de ouvido me acompanharam por toda graduação, em apresentações para o projeto musical da Psicologia, em novas composições e, para minha surpresa, até em amizades. Porque foi muito duro lidar na adolescência com tanta rejeição à minha banda preferida, e os contantes recados de "lembrei de você, tocava wonderwall no rádio" de hoje nunca me emocionaram, só aumentavam esta mágoa.Agora que estou distante você se lembra de mim ao ouvir uma música de uma banda que você despreza?
      Enfim, por um longo tempo escutar minha banda preferida foi algo solitário e extremamente julgado por quem me rodeava, e isso influenciou minhas escolhas de amizades. Pouco empáticas e pouco estimulantes, quem não aceita o que você gosta, não aceita o que você é. E com isso não é alguém com quem você ficará feliz em conviver. Isto explica o pouquíssimo contato com as pessoas que me apelidaram de Oasis nos corredores do colégio Padre Réus, apenas eu carregava com orgulho aquela palavra. Para os outros era um belo bullying contra alguém solitário. E hoje você se espanta por eu oferecer minha coleção de CDs daquela banda que você despreza.
    Mas como tudo vem na mesma medida, a internet me aproximou de pessoas com mesmo interesse. E o Brasil trouxe do Maranhão uma irmã Oasis, tardes e mais tardes por MSN, orkut e facebook discutindo sobre a carreira da minha banda preferida tornou meus dias mais suaves. E conversar com meus colegas de banda sobre estes assuntos também. A gente mede nossa felicidade na vida pelas pessoas que nos acompanham. 
    Este é o maior retorno da minha coleção de CDs do Oasis, as pessoas que se manifestaram incrédulas com minha decisão batalharam para que ela seguisse outro rumo. Para que eu não abandonasse quem sou. Mas peço licença à novelinha emocional sobre amizades, é apenas uma pequena homenagem aos episódios do verão europeu de 1996. Quando a banda da minha vida iria conquistar o mundo, e como a Inglaterra no futebol, pipocou na hora decisiva. Um belo conselho sobre mídias abre seus olhos.
       A resposta mais sensata seria a que rebateu ao meu anúncio lembrando que as mídias de Compact Discs não estão em um momento favorável e rentável. E neste momento encontrei os milhões de libras esterlinas separada da zona do Euro de Noel Gallagher sorrindo para mim. Assim como o atual fascínio da nossa geração por uma cultura do vinil, as próximas gerações vão desejar comprar meus disquinhos e os seus também. Vintage é um conceito... E os discos compactos que estranhamente eram inseridos feito pastilhas sensíveis num mini-robô que reproduzia seu áudio a cada dia valem mais e mais, mesmo que numa marcha invisível aos pessimistas.
    Por enquanto, eu me comprometo com cada um que se interessar, em procurar todas as canções que compõem a coleção de CDs do Oasis nos moldes gratuitos que temos acesso hoje em dia. Há muito que eu abandonei o rapaz egoísta e acomodado inspirado no seu vocalista